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Superligados na TV


Publicado pelo jornal Folha de S.Paulo 17/10/2004

(Daniel Castro)
As crianças e os adolescentes brasileiros são provavelmente os que mais vêem televisão no mundo. Por outro lado, são os que menos lêem livros. Os que moram em grandes cidades quase não brincam. E a quase totalidade deles ignora a prática de esportes coletivos e o uso do computador.
Essa gangorra é o retrato de uma pesquisa inédita feita pelo instituto Ipsos em dez países (entre eles Estados Unidos, Reino Unido e China). Foram entrevistados 5.500 pais e responsáveis por crianças e adolescentes de 2 a 17 anos. A pergunta: o que seus filhos fazem todos os dias?
No Brasil, 57% dos 500 entrevistados responderam que seus filhos assistem a TV durante pelo menos três horas por dia e 31%, de uma a duas horas. Só 5% falaram que seus filhos não vêem TV.
Os dados são mais conservadores que os do Ibope. Segundo o instituto, os telespectadores de 4 a 17 anos passaram em setembro, em média, quatro horas e 25 minutos por dia com a TV ligada.
Em contraponto à televisão, 43% dos pais brasileiros ouvidos disseram que seus filhos não ocupam nada de seu tempo lendo livros ou brincando com os amigos; 79% disseram que seus herdeiros não praticam esportes coletivos; 69% afirmaram que eles não usam computadores.
"O resultado é preocupante. Quando há mais TV do que leitura, há um empobrecimento do país. Não brincar também é perigoso. A criança que não brinca não conversa, fica isolada", diz Ana Bock, presidente eleita do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e professora da PUC-SP.
Para Beth Carmona, presidente da TVE (emissora educativa do RJ), há um fator que faz toda a diferença na análise desses dados. "O tempo que as crianças passam nas escolas nos Estados Unidos e na Europa é de até sete horas por dia. Aqui, não passam mais do que quatro horas. Logo, os brasileiros ficam mais tempo em casa, provavelmente vendo televisão", afirma Carmona, que também coordena a ONG Midiativa.
O fato de a pesquisa da Ipsos ter sido feita no Brasil apenas em centros urbanos (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre), de acordo com Carmona, explica a alta incidência de crianças que não brincam com amigos. Por trás disso, estaria o medo da violência nas ruas. Ela responsabiliza parcialmente a política educacional brasileira por esse panorama, mas não isenta a televisão. "A TV pode levar a criança a conclusões distorcidas. A TV mostra uma rua mais perigosa do que ela é, e isso gera medo, neurose, violência. A influência da televisão no Brasil é muito séria. Nossas crianças são mais desinformadas. Na Europa, há uma tradição de TV pública com programação para criança mais elaborada."
Para Rodrigo Toni, diretor-geral do Ipsos no Brasil, a pesquisa não permite afirmar que a TV afasta a criança dos livros e das brincadeiras. "Há muita televisão, mas o que as afasta das outras atividades são a falta de hábito e os ambientes educacional e familiar. Os vilões são os próprios pais, que não valorizam a leitura", diz.
Opinião parecida tem a psicóloga especializada em famílias Lidia Aratangy: "Pais leitores têm mais chances de ter filhos leitores simplesmente porque as crianças percebem que aquele objeto deve ser muito importante para prender a atenção de uma pessoa tão importante". Ela recomenda também que os pais assistam à TV juntos dos filhos, para transformá-los "de esponjas em filtros".
Segundo a psicóloga Ana Bock, " a leitura é ainda uma das ferramentas mais ricas que temos. Nela, é você quem faz o cenário, diferentemente do que ocorre com a TV".
De acordo com Bia Rosenberg, gerente de produção da TV Cultura, a pesquisa retrata um aspecto cultural: "Já é uma tradição a família brasileira assistir a muita televisão. Isso não significa que sejamos mais burros, mas que escolhemos o que é mais fácil".
Não é por acaso, portanto, que a MTV não tenha tido retorno de seu público-alvo de uma vinheta que exibe há dois meses: "Desliga a TV e vai ler um livro". "Recebemos muitas felicitações de pais e professores", conta José Wilson, diretor de marketing do canal. Os adolescentes não se manifestaram.


Folha de S.Paulo

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