Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 08/11/2004

(Renata Cafardo, Camilla Haddad, Eduardo Kattah e Silvana Guaiume)
O primeiro Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) foi realizado ontem em 361 cidades do País com 90,16% de comparecimento, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). "Pela participação dos estudantes, acreditamos que a nova proposta foi bem entendida", disse o diretor do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC), Dilvo Ristoff. O Enade substitui este ano o Provão, um dos maiores marcos do governo anterior na educação.
Diferentemente do que ocorreu nos nove anos em que o Provão foi realizado, apenas uma amostra do total de alunos dos cursos avaliados foi convocada. Cerca de 140 mil formandos e também ingressantes - outra mudança com relação ao antigo exame - compareceram. Apenas cursos das áreas de saúde e ciências agrárias, 2.187 no total, fizeram parte desse primeiro Enade.
Assim como costumava ocorrer com o Provão, estudantes ontem reclamavam da prova. "Onde já se viu só alguns alunos fazerem prova? Ou avalia todo mundo ou não avalia ninguém", disse a estudante de Odontologia Bruna Virolli, 21 anos na porta do Colégio da Polícia Militar, na zona norte da capital.. "Acho que essa prova não vai adiantar nada", completou o colega Fábio Milani, de 22 anos.
O exame foi realizado entre 13 horas e 17 horas em 644 locais. O maior número de alunos chamado foi do curso de Educação Física. Antes da prova, Andréia Zulatto se dizia preocupada porque acreditava que não conheceria grande parte do conteúdo, já que está no primeiro ano do curso. "Até que não foi tão difícil como pensei. Muita coisa eu já tinha visto em classe e foi fácil de fazer", disse, na saída.
Por causa de cinco minutos de atraso, dez alunos deixaram de fazer o Enade ontem no colégio da zona norte. Eles disseram morar na zona leste e terem tido dificuldades para se deslocar na cidade. "Seria justo que pelo menos pudéssemos assinar presença", protestou César de Souza, um dos atrasados. Segundo o Inep, quem perdeu a prova pode entrar com recurso no MEC e, dependendo do motivo, poderá receber um certificado de dispensa. A participação no Enade - de quem foi convocado - é obrigatória para a obtenção do diploma de ensino superior.
SEM AMOSTRA
Apesar do exame ser amostral, todos os 41 alunos do primeiro ano do curso de Educação Física das Faculdades de Vinhedo, na região de Campinas, foram convocados para participar do Enade. De acordo com o MEC, cursos pequenos poderiam ter todos seus alunos chamados.
"A prova não estava difícil, mas algumas questões não fazem parte do conteúdo do primeiro ano do curso", comentou Wallace Fernando de Oliveira, de 18 anos. As provas dos ingressantes e dos concluintes foram as mesmas, mas com valores diferentes. Todos tiveram de responder 40 questões, sendo 10 de conhecimentos gerais e 30 específicas dos cursos. O Enade foi realizado em três escolas da região de Campinas.
Em Belo Horizonte, mais de 3,8 mil estudantes foram selecionados. O estudante do primeiro ano do curso de Fisioterapia da Faculdade Isabela Hendrix, Marcos Gonçalvez Santos Filho, de 20 anos, foi um dos primeiros a deixar o prédio de uma escola estadual, na zona sul da cidade. Marcos considerou válida a proposta de incluir os iniciantes na avaliação, mas reclamou do conteúdo da prova. "Achei que a prova estava muito difícil, porque parece que ela foi elaborada apenas para quem está no último ano do curso."
A também estudante de Fisioterapia, Fernanda Soares Corrêa, 24 anos, gostou do exame. "Pela prova, acho que estou saindo da faculdade bem preparada".
O Enade demorou quase dois anos para ser planejado pelo MEC, até substituir o Provão. O exame é apenas uma parte do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes), também criado pelo governo Lula. As instituições deverão fazer ainda auto-avaliações e serão avaliadas por equipes do MEC. Os resultados do Enade devem ser divulgados em março.
Os gabaritos das provas estão disponíveis no site do Inep: http://www.inep.gov.br

O Estado de S.Paulo

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