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Quinta-Feira , 01 de Maio de 2025
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Há pouco tempo para ser criança


Artigo de Rosely Sayão na Folha de S.Paulo 18/11/2004

Muitos pais se afligem demais com a entrada precoce dos filhos na adolescência ou mesmo com a pressão dos próprios filhos para que os pais os liberem para tanto. Outros, por sua vez, nem se dão conta de que empurram os filhos para que deixem de ser crianças antes mesmo que eles queiram.
É, a força do mundo contemporâneo que elegeu a juventude como seu ícone maior não perdoa sequer a infância. A criança quer também, como todos, ser jovem.
Constatamos esse fato em vários e diferentes aspectos da vida das crianças: no vestuário, nos acessórios e adereços que usam, nos celulares que portam, no modo de falar, na aparência e nos cuidados com a beleza, na linguagem gestual que usam etc. É o estilo jovem de viver que invadiu a infância.
Tomemos como exemplo as meninas e o hábito de freqüentar o cabeleireiro.
Como mostrou uma reportagem da Folhinha recentemente (06/11), não é apenas para cortar o cabelo que elas vão -ou melhor, são levadas- ao salão.
Colorir o cabelo, fazer unhas e esmaltar, fazer escova, alisamento, hidratação e tudo o mais que estiver na pauta da moda elas fazem. Inclusive com bastante regularidade. Algumas mães escreveram comentando a reportagem e perguntando se não é muito cedo para uma garota de menos de 12 anos, 13 anos dedicar parte de seu tempo em atividades típicas de mulher feita e perguntando quais efeitos isso pode provocar mais tarde. Na verdade, não é possível afirmar que os efeitos desse tipo de vida serão, necessariamente, negativos. Estamos pagando para ver o que acontecerá a essas garotas quando forem adultas.
Mas, uma coisa é certa: elas estão com menos tempo -bem menos- para ser criança. Outro dia estava eu em um cabeleireiro e, ao meu lado, uma garota de nove anos cuidava das unhas com a manicure. A mãe, ao lado, insistia para que ela colocasse esmalte, e ela negava. A mãe tanto insistiu que conseguiu uma belíssima reação da filha. Ela quis, sim, e escolheu um esmalte vermelho. Nem adiantou a mãe manifestar que, na idade dela, um rosa ficaria bem melhor. Mas, a garota fez pé firme e decretou: "Ou esmalte vermelho, ou nenhum!".
Devo confessar que tive esperança de que a mãe percebesse a jogada da filha, que não queria esmaltar as unhas. Não foi desta vez: a garota saiu com unhas vermelhas vibrante.
Isso dá o que pensar, não é verdade? Os pais insistem que a mídia influencia demais o estilo de vida das crianças. Ora, claro que se a criança é tentada a algo, vai cair no jogo da sedução com bastante facilidade.
Sempre é bom lembrar que a criançada sabe muito bem o que quer. E qual o papel dos pais? Equilibrar o querer dos filhos com as possibilidades familiares e o estilo de vida que o grupo preza, avaliar se o que o filho quer é necessário e se fará bem à vida dele naquela fase da vida, e descartar o que considera desnecessário.
Para tanto, é preciso que os pais não tenham medo de bancar a posição firme de negar quando for o caso.
Uma outra correspondência de um pai chama a atenção para um fato semelhante: a filha, de dez anos, agora quer, no fim de semana, ir à boate para crianças. O pai explica: no horário das 13h às 16h há, na cidade, uma boate que promove evento para crianças de nove a 12 anos. Como o pai mesmo diz, ele não acredita que um evento desse tipo tenha algo demais para a criançada, mas é ao simbolismo da idéia que ele resiste. E com razão, devo dizer.
É que, até há pouco tempo, as crianças brincavam de namorar, brincavam de ir ao salão de beleza, de médico, de dentista etc. Elas brincavam de ser gente grande. Hoje, muitos pais estão levando a sério essas brincadeiras. Desse jeito, logo mais os filhos estarão receitando e fazendo diagnósticos médicos, não?
O período da infância é bem curto, considerando a expectativa de vida; por isso, seria importante que nossas crianças tivessem tempo para viver esse período sem pressa de sair dele antes de entrar na adolescência. Nada como terminar bem uma fase para entrar em outra.
Entretanto, para que seja possível ser criança na época certa, é preciso a presença de adultos que garantam isso. É o que temos feito?


Folha de S.Paulo

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