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Um Professor Pardal tupiniquim


Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 12/12/2004

(Roberta Pennafort)
Resto de fio, compressor de geladeira e de ar-condicionado, motor de enceradeira, trilho de impressora, mouse velho, cabo de ferro de passar roupa. Materiais que não têm qualquer utilidade para a maioria das pessoas se transformam em robôs e equipamentos úteis nas mãos do engenheiro Sidney Odócio do Almo Torres, de 27 anos.
Ele é um Professor Pardal tupiniquim, que dribla as dificuldades financeiras em nome da ciência. Desde os 15 anos, o filho de família pobre, hoje mestrando em Robótica na Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), recolhe peças com defeito ou que não estão mais sendo utilizadas e lhes dá nova vida, construindo, artesanalmente, novos objetos.
"Nunca fui muito técnico. Eu queria que os instrumentos funcionassem e ia dando o meu jeito. O importante é persistir", conta o rapaz. "Quando precisava, tirava minhas dúvidas com conhecidos que entendiam do assunto. Enchia o saco deles." Sidney é "pai" de quatro robôs - um que fala, outro que anda, um terceiro que escreve e um último que seria capaz até de desmontar uma bomba ou manusear material radioativo, segundo seu inventor. Para idealizar e montar cada um, bastou uma semana.
Também são criações suas uma serra tico-tico (que serra madeira), uma máquina bobinadeira, um ferro de solda e um jogo de xadrez. "Conforme vou precisando dos objetos, vou criando", explica.
CURIOSIDADE
Sidney trabalha sozinho, superando-se e aprimorando seus conhecimentos. Ele produz as peças do início ao fim: desde a montagem de circuitos elétricos até o acabamento, que invariavelmente ganham suas iniciais: S.O.A.T. - precaução para evitar que aproveitadores se apossem de suas invenções.
Curiosidade é o que move o jovem. "Sempre trago para casa coisas que os outros jogavam na lixo", lembra. "Eu saio experimentando para ver se dá certo". Todas as criações de Sidney nasceram num quartinho de 9 metros quadrados, nos fundos da casa onde ele mora com a mãe, Suely, cabeleireira. "É meu centro de pesquisa, minha oficina e sala de estudos", brinca.
Suely não se contém de tanto orgulho. E não reclama da bagunça. "Desde pequeno eu o deixei fazer o que queria, mesmo que minha casa parecesse um ferro-velho", ri. "Ele é muito inteligente e trabalhador. Nunca me pediu nada. Seu futuro será brilhante."
PERCALÇOS
A residência em que eles vivem é humilde, assim como a vizinhança do bairro de Vila Kosmos, na zona norte do Rio. As dificuldades sempre foram grandes. Sidney ajuda a mãe desde menino, seja como vendedor de pipas ou como técnico. Ela criou os filhos (Sidney e a irmã mais velha, Susana) separada do pai.
Por sugestão de um conhecido, o menino habilidoso estudou Engenharia Mecânica na Faculdade Souza Marques, da qual ganhou uma bolsa de estudos. Durante o curso, mais obstáculos. "Era muito difícil comprar livros e revistas científicas. Usava o dinheiro que ganhava nos estágios que fiz", diz. Mas ele seguiu adiante. Antes mesmo de terminar a graduação, já começou o mestrado na Coppe, um dos centros de excelência na área.
Agora, além além de dar prosseguimento a seus experimentos domésticos, ele quer dar aulas e se dedicar à pesquisa. O objetivo maior é melhorar a vida dele e a da mãe. Entusiasmo não falta, embora Sidney se ressinta da falta de incentivo. "O dinheiro não chega a quem tem de chegar", critica o engenheiro, que vive e ajuda a mãe com os R$ 800 que ganha de bolsa.
Mas ele não gosta do discurso de coitadinho. "Tem gente pobre que diz que para ele é mais difícil, que não tem estímulo. Mas a pessoa tem que procurar fazer o melhor que pode." O apelido de nerd também não o atrai. "Posso ser um cientista, mas não de dedicação exclusiva. Jogo futebol duas vezes por semana", garante. "Me considero um ponto fora da curva. Consigo observar coisas que as outras pessoas não vêem. É só isso."


O Estado de S.Paulo

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