Os anos 50 na coleção do MAM |
|
|
Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 15/12/2004 |
(Camila Molina)
Um exercício de reflexão dentro do museu. Sobre a década de 50. Como diz o crítico e membro do conselho de curadores do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Felipe Chaimovich, a exposição que ele concebeu e que será inaugurada hoje, para convidados, na grande sala da instituição, não se trata de um panorama sobre aqueles anos lá detrás. Por meio de uma seleção de obras pertencentes ao acervo do MAM, Cinqüenta 50 parte de um contexto político da época para refletir sobre os caminhos de uma produção que acontecia nos anos 50 e que, certamente, influenciou a arte que vinha depois e até a de hoje.
O contexto político era parte fundamental de outra exposição em que Chaimovich foi curador, 2080, apresentada no início de 2003 no mesmo museu. A mostra não deixava de também trazer consigo um pensamento sobre o momento político da época - o movimento de Diretas-Já era reflexo da redemocratização. E na década de 50? "Que esperamos do Brasil? Os anos de 1950 foram caracterizados pela explicitação dessa pergunta e pela proposta de soluções que indicassem o caminho a ser trilhado pelo País. A arte acompanhou o desafio do desenvolvimento brasileiro, testemunhando a ampla composição de forças em jogo", escreve Chaimovich.
Getúlio Vargas tinha sido eleito presidente no começo da década, mas, depois, suicidou-se. Juscelino Kubitschek iniciou sua campanha nacionalista e era o momento de se pensar num projeto para o País - que culminou na construção de uma cidade que seria a capital federal, Brasília. O "debate complexo" surgido naquele momento - sem deixar de levar em conta o início da guerra fria, a "polarização entre comunistas e capitalistas", como pontua o curador, via-se também na produção artística daqueles anos.
Segundo Chaimovich, a mostra Cinqüenta 50 parte de crítica a uma idéia muito explorada: a de que a principal influência artística daquela década tenha sido o construtivismo. "Essa é uma visão anacrônica, construída nos anos 90", defende o curador. Nessa exposição, o que se quer mostrar é a pluralidade daquela produção e não deixá-la se ver presa numa camisa-de-força.
ESTILOS
A mostra passa por diversos estilos, definidos em cinco núcleos. As 75 obras da coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo estão reunidas nos grupos surrealismo, realismo urbano, figuração, abstracionismo informal e abstração construtiva e tem como ponto final o tema da construção de Brasília, registrada nas fotos de Thomaz Farkas. Como diz o curador, o acervo do MAM ainda está em processo de reconstrução e, por isso, foi esse conjunto (com obras de muitos grandes artistas) que ele conseguiu trazer ao público para permitir o debate - e vale dizer que os espectadores encontrarão menos pinturas e esculturas do que obras gráficas e fotografias. O primeiro núcleo, do surrealismo, é "um viés mais interpretativo" de Chaimovich. Está na abertura como "arte revolucionária", no pós-guerra, "firmava-se como uma corrente internacional". "Não se entende a produção a partir da década de 60 sem o surrealismo", diz. O surrealismo é base para a contemporaneidade assim como as obras do realismo urbano representado nas fotografias de German Lorca, no belo ensaio gráfico-poético A Cidade Moderna, de Carlos Prado, e criações de Gerda Brentani, Mario Zanini e Grassmann, entre outros.
A figuração era uma tendência que vinha de muito antes e entre os destaques desse grupo estão as esculturas do mineiro Alfredo Ceschiatti e obras de Arnaldo Pedroso d'Horta, Livio Abramo e Samson Flexor (que curiosamente também está presente na abstração informal e construtiva).
E entre as abstrações, na construtiva, que "visava a instaurar uma nova ordem no mundo", estão obras de Hélio Oiticica, Lygia Clark e xilogravuras de Lygia Pape (do Grupo Frente); Anatol Wladislaw; Weissmann; e Barsotti, por exemplo, e na informal, de "gestos livres e jogos cromáticos", as de Arthur Luiz Piza, Flávio-Shiró e Sérvulo Esmeraldo. Também, a partir de 23 de janeiro, o Cinemam exibirá um ciclo de filmes da década.
O Estado de S.Paulo
Para mais informações clique em AJUDA no menu.
|