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Quinta-Feira , 01 de Maio de 2025
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Para ensinar (e aprender) a compartilhar


Artigo de Thereza Soares Pagani na Folha de S.Paulo 03/02/2005

Quero contar algumas vivências que, desde a minha chegada a São Paulo, têm proporcionado boas lembranças das crianças e das famílias com as quais trabalhei e trabalho hoje.
Sempre compartilhei meus conhecimentos com muito prazer -mas também tive, quando necessário, a simplicidade de dizer "não sei". É difícil lidar com a atitude de compartilhar quando não se tem irmãos, primos nem amigos. Por mais que os pais percebam a dificuldade dos educadores de trabalhar o comportamento de partilha com as crianças, é muito rara a vivência desse tipo de atitude dentro das próprias famílias. Por esses motivos sinto necessidade de listar exemplos do cotidiano que podem servir como incentivo para ensinar a arte de dividir.
Material: tudo o que não se utiliza mais em casa, escritório e escola pode ser reunido, selecionado e levado pelos pequeninos para um local onde se possa reaproveitá-lo. Caixas, sacolas, papel de presente, sacos -as festas de fim de ano costumam deixar esse tipo de rastro- podem ser separados e reutilizados, substituindo cartolinas, papel-espelho e outros itens geralmente comprados para atividades pedagógicas.
O material trazido de casa embute a oportunidade para cada uma das crianças de contar o que ganhou naquela caixa, embrulhado naquele papel, dentro daquele saco... As fitas multicoloridas, aramadas e brilhantes vão criando bonecas, fadas e bruxas. Os pequerruchos ficam alegres, vaidosos por partilhar o que estava sobrando e bagunçando suas casas.
Tanque de areia: no final do ano, uma boa seleção de brinquedos quebrados, sujos e irrecuperáveis são entregues a catadores de papel. Para isso, na última reunião de pais, solicitamos que arrumem os quartos com as crianças e juntos escolham dois brinquedos que não querem mais. Os objetos eleitos são levados para o tanque de areia. É lindo ver as crianças chegando com os brinquedos. Sem falar dos beijos e abraços de despedida daqueles objetos. Assim começa a prática do desapego e o acumulativo ganha caráter social com a doação.
Lanche: cada um traz sua lancheira, e as gamelas para as crianças efetuarem as trocas ficam dispostas na mesa, onde são colocados legumes, frutas, biscoitos e bolos feitos em casa. As crianças que, por algum motivo, não levaram seu lanche, também contam com as frutas das gamelas. Mais um aprendizado de partilha. As etapas desse processo, no entanto, são sempre respeitadas. Quem não quer dividir o lanche pode levá-lo de volta para casa, mas fica claro, ali, que um dia ela poderá trocar ou dividir -até hoje, só tivemos uma criança que saiu sem conseguir partilhar, por recomendação e apoio da mãe, que proibia tal atitude. Infelizmente.
Livros e material escolar: sempre fui adepta de cuidar bem de livros, cadernos, estojos, lápis, pincel e tesoura, para que sejam doados quando o material do ano seguinte for diferente.
Fiquei muito feliz quando me contaram que uma escola está oferecendo espaço para que ocorra venda, troca e doação de material escolar sem que os pais fiquem monitorando preços. Ótimo exercício de cidadania, não?
Uniformes e roupas também entram na lista da partilha. Vale a pena não apenas pela economia, mas para transmitir às nossas crianças noções de reaproveitamento e solidariedade.
Transporte: num mundo corrido, de horários apertados e trânsito caótico, vale a pena participar do rodízio com colegas de idades variadas, trabalhar a tolerância, percorrer caminhos diferentes, saber ceder a janela, ajudar a colocar o cinto de segurança. Isso contribui para formar uma pessoa mais companheira e feliz.
A gota diária do partilhar vai transformando as relações, tornando-as alegres e generosas. A necessidade de dar e de amar é da natureza humana, muito maior do que a de receber. A família, a escola e a comunidade são as células desse crescimento.
É dando que se recebe!
THEREZA SOARES PAGANI ("Therezita") é educadora e diretora da Tearte, escola de educação infantil.


Folha de S.Paulo

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