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Férias para praticar a democracia


Artigo de Rosely Sayão na Folha de S.Paulo 03/02/2005

Período de férias é excepcional para potencializar e/ou explicitar os conflitos genuínos entre pais e filhos, ou seja, aqueles que não têm nenhuma relação com a vida escolar da garotada. Pudera: os filhos ficam mais tempo em casa, não têm obrigações fixas a cumprir, horários rígidos que determinam o momento de sair da cama, o de se recolher e o de se alimentar e nem sequer têm de se ocupar com compromissos que exigem atenção, esforço e dedicação. Com tanto tempo livre, é no período de férias que os filhos podem ficar, literalmente, à toa na vida.
Mesmo os que têm um mínimo de autonomia, no início dessa época estranham tanta liberdade para decidir o que e quando fazer. Esse estranhamento, em geral, provoca uma reação que deixa muitas mães e muitos pais enlouquecidos: "Mãe, o que é que eu faço?", "Mãe, arruma alguma coisa para eu brincar?", "Pai, me dá um presente?", "Esse filme que você pegou é chato, quero outro" e assim por diante. Mas, assim que a criança percebe que deve ser ela mesma a dona de suas escolhas -isso é uma grande lição de liberdade, afinal-, passado o pasmo inicial ela logo se encaminha. Algumas com mais relutância, outras movidas a muito incentivo e outras já totalmente desenvoltas vão cuidar de suas próprias vidas. Mesmo que seja para não fazer nada de fato por alguns períodos. Aliás, é sempre bom lembrar que escolher estar sozinho -ou seja, consigo mesmo- em alguns momentos é um sinal de vida mental saudável.
Não são muitas as crianças que conseguem dar conta de escolher ou de encontrar o que fazer quando se vêem sem um direcionamento. Muito acostumadas a ter o tempo todo determinado pelos adultos, a ter suas demandas sempre atendidas quase que de imediato, carecem da autonomia possível para caminhar com seus próprios passos. Os pais, de um jeito ou de outro, no início, atendem aos pedidos dos filhos, até que chega a hora em que o limite -da paciência, da disponibilidade, da disposição- se estabelece. É a hora do "Chega! Eu não agüento mais". E esse "agora chega" nem sempre surge com clareza, com transparência, mas é informado, de qualquer forma, aos filhos. Que, é claro, respondem à altura. É o momento das confusões, das brigas, dos pedidos incessantes, das exigências descabidas. Que surgem, por sinal, dos dois lados.
Muitos pais conseguem perceber, apesar de toda essa turbulência, que o que têm à frente nesse momento é uma grande deixa para buscar novos caminhos no relacionamento com os filhos e questionar a direção que tomaram na educação que praticam com eles. Esses pais se entregam à tarefa de encarar os conflitos -consigo mesmo e com os filhos- de frente, buscando as negociações possíveis. Para tanto, é preciso não evitar a tensão, tampouco os dissabores e os descontentamentos que fazem parte da relação. É preciso respirar fundo, se encher de coragem e ir em frente.
Para esses pais, é importante saber que tais conflitos com os filhos não se restringem ao período de férias: apenas são aguçados por ele. Na labuta do ano letivo, acabam sendo mascarados por exigências específicas. É importante saber também que esses conflitos não têm solução, têm negociações. E as negociações -temos aprendido isso nos tempos democráticos- precisam ser constantemente renovadas e atualizadas.
Os conflitos que surgem nas relações entre pais e filhos são inerentes a esse vínculo. Entre outros motivos, porque enquanto o filho aponta o que quer e o que não quer, o que gosta e o que não gosta, o que quer ter e o que dispensa, os pais precisam apontar o que deve e o que não deve, o que pode e o que não pode, o que é possível e o que é necessário, o que é preciso. E tal conflito surge ainda mais forte quanto mais democrática for a relação que os pais têm com seus filhos, ao contrário do que muita gente acredita. Onde parece que não há conflito, há controle, há dependência; onde há espaço para o conflito se expressar, há ambiente democrático.


Folha de S.Paulo

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