Brasil pesquisará roupa movida pela mente |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 15/02/2005 |
(Herton Escobar)
No que depender de Miguel Nicolelis, o primeiro tetraplégico que voltará a andar será um brasileiro, usando tecnologia desenvolvida no Brasil. Parece sonho de cientista do Terceiro Mundo, mas não é. Nicolelis, o neurocientista brasileiro da Universidade de Duke (EUA) que há cinco anos fez um macaco mover um braço mecânico apenas com a força do pensamento, está fechando uma parceria com o Hospital Albert Einstein para trazer ao País a próxima fase de sua pesquisa: o desenvolvimento de uma roupa robótica, controlada pela mente, capaz de devolver a pessoas paralisadas a capacidade de movimento.
"Não é ficção científica, é realidade", garante Nicolelis, que já é apontado por colegas como futuro candidato ao Prêmio Nobel. "Meu grande sonho é que o primeiro ser humano a andar de novo seja um brasileiro. Quero fazer história no Brasil." Pelos planos do pesquisador, que também está à frente da construção do Instituto de Neurociências de Natal (RN), Duke e Einstein deverão atuar como núcleos de uma rede internacional de pesquisa em neurociência clínica, voltada especificamente ao desenvolvimento de neuropróteses - próteses robóticas controladas pelo cérebro.
A princípio, os estudos serão focados nos membros superiores, por exemplo, com braços mecânicos acoplados a cadeiras de rodas. A expectativa maior, entretanto, é desenvolver a tecnologia na forma de uma vestimenta cibernética completa, capaz de sustentar todo o corpo da pessoa. "Seria um robô que você veste e que movimenta seu corpo a partir de comandos cerebrais", explica Nicolelis, que fez palestra ontem no Albert Einstein e falou com exclusividade ao Estado.
Os primeiros experimentos clínicos deverão ser realizados no hospital brasileiro - talvez ainda este ano. "É algo totalmente factível", diz o pesquisador Carlos Moreira-Filho, diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) do Einstein. O desenho da rede internacional, segundo ele, deve ficar pronto em março.
Um protótipo da veste, parecido com uma roupa de astronauta, já é usado por pessoas tetraplégicas para evitar a atrofia muscular. Mas é controlado por computador. "Estamos adaptando essa veste para receber comandos do sistema nervoso central", diz Nicolelis.
Quando uma pessoa fica paralisada por uma lesão na medula espinhal ou por alguma doença degenerativa, ela mantém a capacidade cerebral de comandar movimentos. O problema é que esses comandos nervosos não chegam até os músculos. "Você tem o equipamento, mas o cabo está cortado", explica Moreira-Filho.
O conceito básico da pesquisa já foi testado com sucesso em macacos e seres humanos: microeletrodos implantados no cérebro registram os comandos neuronais produzidos durante um movimento. Esses dados são enviados a um computador que "traduz" esses impulsos em instruções matemáticas, capazes de reproduzir aqueles movimentos automaticamente em um membro robótico. Com um pouco de treino, a pessoa se torna capaz de movimentar a prótese apenas com a força do pensamento.
"O mais incrível é que o cérebro incorpora esse apêndice mecânico como se fosse uma extensão natural do corpo. Os macacos, para todos os efeitos, passaram a ter três braços", diz Nicolelis.
O Estado de S.Paulo
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