A seleção
dos livros
Reconhecendo que uma seleção é sempre
um recorte que pode levar a uma certa leitura, entre tantas
outras possíveis, a escolha dos livros da exposição
A Escola Pública e o Saber: Trajetória de uma
Relação procurou mostrar livros significativos
para a história da leitura escolar, levando em consideração
a alta tiragem e/ou venda, a longevidade, a inovação
pedagógica, a importância do autor ou ilustrador,
a raridade e a curiosidade. Os livros, assim como os móveis
e alguns objetos, foram garimpados sobretudo no enorme acervo
da Escola Estadual Caetano de Campos, instituição
modelo da educação paulista durante décadas.
A seleção dos livros buscou, ainda, privilegiar
a leitura dos alunos do Curso Primário (em sala de
aula e na biblioteca infantil), embora tenha incluído
várias publicações endereçadas
aos professores primários e alunos do Curso Normal.
Por isso os livros são apresentados nas quatro categorias
acima.
A expansão
da escola pública e o mercado editorial
Impulsionada pelos lucros da lavoura de café e pelas
idéias republicanas, a expansão da escola pública
primária no Estado de São Paulo, iniciada no
final do século XIX, acelerou o desenvolvimento do
mercado editorial e possibilitou a profissionalização
do escritor didático.
Editoras já tradicionais no segmento de livros didáticos,
como a Livraria Francisco Alves, fundada em 1854 no Rio de
Janeiro, expandiram seus negócios em São Paulo,
abrindo sua primeira filial em 1893. Outras editoras como
a Melhoramentos (1915) e a Monteiro Lobato & Cia. (1918)
apareceram em São Paulo e logo fizeram do livro didático
(e da literatura infantil) um importante ramo de seus negócios.
Outro exemplo é a Tipografia Siqueira, que fornecia
livros de escrituração para a Escola Normal
Caetano de Campos, e acabou editando vários livros
didáticos de autores que lá mantinham vínculos
administrativos ou pedagógicos.
Novos espaços
e tempos escolares
Os novos espaços urbanos com várias salas de
aula, chamados de Grupos Escolares, generalizaram o ensino
simultâneo como forma mais moderna de organização
do tempo escolar. O ensino simultâneo, centrado na ação
do professor e na atenção simultânea dos
alunos, se opunha aos métodos em voga no século
XIX que reuniam numa mesma sala alunos de várias idades
e de vários níveis de ensino: o método
individual e o método mútuo (ou de Lancaster).
Além disso, essa nova organização escolar,
que também pressupunha a uniformização
e seriação dos conteúdos, distribuídos
gradualmente nos quatro anos do curso primário, passou
a exigir uma variedade muito maior de livros didáticos
adaptados ao ensino graduado de todas as matérias do
currículo.
Por outro lado, a progressiva diminuição do
número de matrículas à medida que o Curso
Primário avançava, além de causar inchaço
das classes de Primeiro Ano e um esvaziamento significativo
a partir do Segundo Ano, acabava refletindo na tiragem dos
livros didáticos, que ia diminuindo drasticamente à
medida que o livro era direcionado para os níveis mais
adiantados.
Método
intuitivo
A escola republicana procurou difundir o método intuitivo
(assim chamado porque dava muita importância à
intuição, à observação,
à experiência através dos sentidos), inventado
na Inglaterra e nos Estados Unidos ao longo do século
XIX, conhecido como "object teaching" ou "object
lesson".
No Brasil, o método intuitivo chegou primeiro através
de alguns compêndios de "Lições de
Coisas", inspirados em similares franceses ("Leçon
de Choses"). Em 1886, a Tipografia Nacional publicou
as Primeiras Lições de Coisas do americano Norman
Allison Calkins, com tradução e adaptação
de Rui Barbosa, cuja adoção pelo Governo Imperial
marca oficialmente a introdução do método
intuitivo nas Escolas Normais e entre os professores primários.
A difusão do método intuitivo influenciou desde
cartilhas de alfabetização até livros
didáticos de várias matérias.
A importância
da imagem
Junto com a observação e a experiência,
o método intuitivo privilegiava a aprendizagem através
da ilustração e do desenho. Desta maneira, a
imagem tornou-se tão importante quanto o texto no livro
didático e os livros dirigidos ao ensino primário
passaram a apresentar cada vez mais ilustrações
(e fotografias), inclusive nas capas, ampliando também
o mercado de trabalho para artistas que até então
atuavam em jornais e revistas. Isso só foi possível
graças aos avanços da imprensa (cromolitografia)
e das técnicas de fabricação do papel
(substituição da pasta de trapos pela pasta
de madeira), em curso desde a metade do século XIX,
que baratearam o custo da publicação de livros
ilustrados.
A leitura na
formação dos cidadãos
Os livros de leitura tiveram papel importante na formação
dos cidadãos republicanos, pois através deles
eram transmitidos e reforçados os novos (e velhos)
conteúdos morais e cívicos, fazendo com que
várias gerações partilhassem textos que
construíam a idéia de pátria (geralmente
moderna e civilizada), sendo que alguns desses livros seriam
adotados na escola até os anos de 1960.
A literatura infantil, entrelaçada com a escola e muitas
vezes indicada como leitura suplementar, continuaria explorando
e desenvolvendo tendências editoriais presentes no século
XIX: contos populares, tradução e adaptação
de obras estrangeiras, poesia edificante e contos morais,
além da destoante produção dos escritores
de literatura adulta, encabeçados por Monteiro Lobato.
A massificação
do ensino
Com a massificação do ensino e a redefinição
dos conteúdos nos anos de 1960 e 1970, houve uma transformação
radical dos livros destinados ao uso escolar. O livro didático
aumentou de tamanho, passando a apresentar definitivamente
juntos texto, teoria e exercícios e, como conseqüência,
tornou-se um produto descartável. O manual do professor
e a "ficha de leitura" tornaram-se instrumentos
pedagógicos imprescindíveis.
O ensino de língua materna, mais voltado para as funções
de "comunicação e expressão",
permitiu a entrada na sala de aula dos mais variados tipos
de texto, redirecionando a seleção de textos
dos livros didáticos e favorecendo o crescimento da
literatura infantil a uma taxa explosiva.
 Meu
Livro de Figuras (contra-capa)
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