A seguir, trechos de suas reflexões em cada um dos
períodos analisados:
Anos 30-60
"Baseada nos pressupostos da educação
liberal tradicional, a professora tinha em mente um 'aluno
ideal', construído a partir do modelo da classe social
média alta, dotado dos pré-requisitos e da estrutura
familiar que favorecia a aprendizagem. Sua tarefa enquanto
professora, consistia em traduzir nos planos de aula os conteúdos
a serem assimilados pelos alunos. Aqueles que não conseguissem
aprender seriam 'naturalmente' excluídos da escola."
Anos 60-70
"A sociedade brasileira de então encontra-se
em franco processo de urbanização industrial,
com bolsões de capitalismo avançado. Tradicionalmente
feminino, o trabalho da professora, antes visto como um 'concessão
à emancipação feminina', vai paulatinamente
sofrendo as pressões características da classe
média assalariada. Já não é mais
'luxo' a mulher trabalhar fora. O trabalho da professora carrega
uma vantagem, que é permitir a conciliação
com o trabalho de dona de casa. Se antes ela podia, por isso,
trabalhar um período, agora ela pode (e precisa) trabalhar
dois; se antes o seu salário era complementar, agora
assumiu o caráter de principal na família. Esse
fenômeno evidencia a deterioração do trabalho
em geral num capitalismo selvagem de acumulação
contínua - deterioração do trabalho do
homem e da mulher. As raízes históricas do trabalho
e da formação da professora explicam as dificuldades
dessa profissional e a 'perda da abnegação e
da dedicação', antes consideradas como fatores
inerentes a um bom ensino."
"... a degradação da atividade de professora
tem raízes econômicas e sociais e nessas, a acomodação
e a relativa passividade das professoras em face da degradação
simultânea de sua renda, de seu prestígio social
e de sua responsabilidade em ensinar de modo que os alunos
aprendam. Ou seja, a formação da professora
degradou-se no bojo da deterioração do ensino
como um todo."
A partir dos anos 70
"Se queremos reverter o quadro precário da
educação escolar nas quatro séries iniciais,
é preciso investir fundo na modificação
dos cursos de formação, de modo a assegurar
que esse professor tenha:
· uma aguda consciência da realidade na qual
irá atuar;
· uma sólida fundamentação teórica,
que lhe permita ter essa realidade e fundamentar os procedimentos
técnicos;
· uma consistente instrumentalização,
que lhe permita interferir e transformar a realidade."