"(...) Como uma carta de navegação
e uma bússola são os instrumentos indispensáveis
para qualquer 'sonho náutico', a avaliação
de um programa de intervenção é quase
tão importante quanto os ideais que nos orientam e
as ações que realizamos. (...) a avaliação
deve começar quando vamos estabelecer o que fazer.
Uma carta náutica não se traça à
chegada, ou no meio da travessia, mas em terra firme, antes
de partir. Também não deve ser deixada no porto.
Se não for consultada e, eventualmente, corrigida,
complementada, de nada terá servido fazê-la."
"Um dos maiores obstáculos a qualquer trabalho
preventivo com populações de crianças
e adolescentes parece ser a forma estereotipada e naturalizada
com que temos tratado os jovens em nossos serviços
de educação e saúde, especialmente
os adolescentes. (...) Se a condição mínima
necessária para que o indivíduo possa proteger-se
contra esses problemas é, como se acumulam evidências,
tornar-se ativamente sujeito de sua própria saúde,
assumindo comportamento protetores e solidários,
então não bastarão a base biológica
e os aspectos transculturais da adolescência para
nos orientar. Há que se resgatar a particularidade
social e cultural que marca a identidade concreta de nossas
crianças e adolescentes, aquela que os torna suscetíveis
ao abuso de drogas, à DST e à AIDS, e que
deverá fazê-los mais sensíveis a efetivas
possibilidades de superação dessa suscetibilidade."
"...estratégia de aproximação
preventiva à epidemia da AIDS passou a ser explorada
nos EUA: a noção de vulnerabilidade.
Ela busca estabelecer uma 'síntese conceitual e prática
das dimensões sociais, político-institucionais
e comportamentais associadas às diferentes suscetibilidades
de indivíduos, grupos populacionais e até
mesmo nações à infecção
pelo HIV e às suas conseqüências indesejáveis
(doença e morte)."
"Bem, muito mais haveria a dizer, que não
cabe no espaço deste texto. Mas, pensando bem, é
melhor mesmo que o resto seja dito e pensado em situações
mais próximas àquelas em que estaremos efetivamente
trabalhando, ou estaríamos 'traindo' a aposta fundamental
desta proposta de avaliação, que é a
busca das nossas crianças e adolescentes de 'carne
e osso', que é a perseguição de valores
que sejam não preceitos morais abstratos, mas positiva
busca de liberdade e felicidade, que é o desafio de
fazer da prevenção não uma simples tarefa
profissional, mas um efetivo encontro de seres humanos."