Importância e dificuldades de
localização
Os móveis, objetos e documentos que circularam na escola
pública paulista são fontes materiais importantíssimas
para a contextualização de práticas escolares
do passado, quer seja enquanto testemunho de época na sua
própria materialidade, quer seja enquanto representação
de tais práticas.
Embora os móveis e vários objetos selecionados para
a exposição sejam do acervo da Escola Estadual Caetano
de Campos, a localização desse tipo de material em
escolas é bem rara, pois são os primeiros a sofrer
descarte por falta de espaço e condições de
conservação. Além disso, é difícil
localizar e conseguir o empréstimo de objetos de uso pessoal,
como cadernos, canetas, fotos, diplomas, boletins, etc, pois raramente
são guardados por seus usuários e familiares. Portanto,
a seleção de objetos é o resultado do que foi
possível reunir durante o tempo de preparação
da exposição.
Avanços tecnológicos
As práticas escolares e seus objetos sofreram grandes
interferências dos avanços tecnológicos e,
ao mesmo tempo, criaram demandas para a indústria de material
escolar. Jean Hébrard (2000) comenta que "a aprendizagem
simultânea da leitura e da escrita, foi talvez a maior inovação
do século XIX" e que na França "ela se
generalizou nas classes urbanas e rurais entre 1840 e 1850, graças
às novas técnicas de escrever: abandono da pena
de ganso pela pena metálica, abundância de papel
barato, uso de giz e lousa para os iniciantes". (Clique
aqui ou aqui para ver as antigas salas de aula na França)
A imagem impressa
Com os avanços das técnicas de impressão
a imagem se tornou um instrumento pedagógico importante.
Cartas geográficas e quadros murais do ensino intuitivo
passaram a adornar as salas de aula ao mesmo tempo em que eram
utilizados nas atividades de ciências naturais, história,
geografia, leitura e aritmética.
Entre os métodos de impressão a cores, a cromolitografia
tornou-se bem popular a partir dos anos 1880 por permitir grande
variedade de cores. Cada cor correspondia a uma pedra litográfica
(calcário), que era impressa separadamente no papel uma
única vez, exigindo muita precisão para que a transferência
da imagem ficasse no lugar certo. Alguns cartazes de ensino intuitivo
chegavam a usar 20 cores diferentes.
Demanda social da escrita
De maneira geral, no Brasil do Segundo Império (1840-1889)
o acesso à escrita e suas tecnologias era praticamente
reservado a uma pequena parcela da população que
podia pagar instrução e material escolar importado.
Por outro lado, registra-se a alfabetização de escravos,
embora fosse proibida sua matrícula em escolas.
Na segunda metade do século XIX, o desenvolvimento da lavoura
cafeeira, a instalação de ferrovias e o crescimento
da imigração européia no Estado de São
Paulo aumentaram substancialmente a população urbana,
o que permitiu a expansão de indústrias de manufaturas
e o incremento do comércio, que passaram a se organizar
cada vez mais dependentes da escrita. Nessa época registra-se
também o aumento da procura pelo serviço postal,
tornando a correspondência comercial e familiar uma necessidade
econômica e social. (Clique
aqui para saber a história do Correio Brasileiro e Clique aqui para conhecer os primeiros selos brasileiros)
A expansão da escola e o mercado escolar
Portanto, a expansão da escola pública primária
no Estado de São Paulo, iniciada no final do século
XIX sob os auspícios da República, parece ter sido
uma resposta oficial a esse aumento de demanda da escrita. A construção
e instalação de Grupos Escolares nos centros urbanos
desencadearam o desenvolvimento do mercado de material escolar
que inicialmente era importado dos Estados Unidos e da Europa.
Em 1897, o governo paulista importou através da Casa Anderson
Sotto Mayor & Comp.: laboratórios de física
e química, museus, esquadros, harmônios, modelos
de gesso, esqueletos, quadros de história natural, tornos,
bússolas, microscópios, contadores mecânicos,
globos, papel de tecelagem, etc. Ao que parece, o material foi
distribuído apenas para as escolas-modelo, anexas às
escolas normais, e para alguns grupos escolares da capital. Além
destes, importava-se móveis escolares e instrumentos de
escrita como: lápis, canetas e penas, papel, tinta, etc.
Papel
Na década de 1890 foram instaladas indústrias
de papel em Osasco, Itu, Santos e Caieiras e, na década
seguinte, tipografias da capital como a de Bühnaeds, Weiszflog
Irmãos e a de Augusto Siqueira registraram grande crescimento.
(Veja um resumo
da história do PAPEL)
Lápis
Sabe-se que em 1925 Herman Feher, proprietário de uma
marcenaria e Fritz Johansen, oficial marceneiro formado na Dinamarca,
iniciaram uma fábrica de lápis na cidade de São
Carlos do Pinhal, possivelmente a primeira fábrica de lápis
do Estado de São Paulo. Em Campinas na mesma época,
Gabriel Penteado, engenheiro da Companhia Paulista de
Estradas de Ferro e depois proprietário de uma fábrica
de fogões, e Louis Faber também montaram uma fábrica
de lápis. Em 1930 Herman Feher se associou com a fábrica
alemã Faber-Castell onde eram produzidos 172.800 unidades/ano.
Atualmente a Faber-Castell produz nas suas três fábricas
brasileiras a incrível marca de 1,5 bilhão de lápis
grafite e coloridos por ano. (Veja
um resumo da história do LÁPIS)
Fotos dos anos 1940 da linha de produção de lápis
da fábrica de Fritz Johansen, localizada em São Paulo, SP
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Preparação |
Usinagem |
Pintura e acabamento |
Embalagem |
Caneta
Essas fábricas de lápis também produziam
(ou comercializavam) outros materiais escolares como estojos,
borrachas, goma arábica e, sobretudo, canetas onde eram
encaixadas as penas metálicas, geralmente importadas. Na
década de 1930, a indústria brasileira de material
escolar já atendia o mercado interno, mas produtos de luxo,
como a caneta tinteiro com reservatório de tinta, eram
ainda importados. Por ser muito mais barata do que a caneta tinteiro,
a caneta de madeira com pena metálica permaneceria em nossas
escolas até a década de 1960. (Veja um resumo da
história da CANETA)
Tinta
Além das tintas que vinham importadas, eram bem populares
no Brasil as tintas Sardinha
e Tin-Goy, cujos litros com bicos dosadores eram manejados por
um bedel ou uma servente para encher os tinteiros das carteiras
escolares durante as aulas. (Veja
um resumo da história da TINTA)
Mobiliário
Com exceção das carteiras escolares, algumas ainda
com pés de ferro, os móveis da Exposição
pertenciam ao Museu Escolar e à Biblioteca Infantil Caetano
de Campos e foram inaugurados em 1937 por Fernando Azevedo (veja
Ata de inauguração). Os móveis foram
feitos no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo
com medidas proporcionais ao tamanho das crianças.
Concebida para os alunos do curso primário, a Biblioteca
Infantil Caetano de Campos, inaugurada em 1925 por Carlos Alberto
Gomes Cardim, então diretor da Escola Normal, foi a primeira
biblioteca pública do gênero no Brasil. (Veja
foto Painel 3 - Biblioteca)