"Pouco se conhece ainda sobre as representações
que o povo faz sobre a Escola; sua expectativa quanto ao
que ela ensina, inclusive a ele, pela própria expansão
do acesso; as relações entre o processo de
escolarização e o de proletarização
(pela presença ou pela ausência), que estão
presentes na história da Educação vivida
mas que não aparecem na história escrita,
ensinada nas escolas."
"Diante do exposto, fica delineada a situação
trágica dos cursos noturnos de 1 ° e 2°Graus:
recebem alunos que trabalham em serviços remunerados
ou não, freqüentemente bem antes dos catorze anos
estabelecidos pela legislação e muitas vezes
por mais de quarenta horas semanais."
"O curso noturno tem sido um diurno piorado. O
professor não se aprofunda nas diferenças
entre o diurno e o noturno; não há relação
entre o diurno, o noturno e a condição de
trabalhador do aluno e do professor. Ambos produzem - quanto
vale, quanto representa essa produção para
o País? O aluno que insiste em estudar à noite,
apesar das repetências múltiplas, é
um cidadão que contribui com sua produção
para o desenvolvimento da cidade, do País."
"Ficou patente, nesse trabalho de repensar o curso
noturno, que é a Escola Pública inteira que
precisa ser revista e que são "ilhas de boa vontade
de professores interessados" que conseguem modificar
uma Escola por algum período de tempo, já que
há descontinuidade nos projetos e ausência de
condições."
"É essa a questão fundamental: quais as
condições para o ensino e a aprendizagem quando
o aluno é uma criança, um jovem, um adulto já
inserido no mundo do trabalho, como força produtiva,
tendo na Escola um dos únicos canais para a ciência,
a tecnologia e a cultura? (...)
As poucas vezes em que a Escola faz referência à
condição de trabalhador do estudante dos cursos
noturnos é em sentido paternalista e autoritário.
Pretende-se justificar uma diferença de tratamento
quanto à seleção de conteúdos
e avaliação ou à carga horária,
alegando-se "cansaço", "falta de interesse",
"falta de responsabilidade", "falta de base"
da parte dos alunos que respondem pela sobrevivência
própria, e até da família, e que se reprovados
ou desistentes se matriculam novamente ano após ano."
"Esse projeto só será transformador
se fundado em investigação sobre a especificidade
do ensino noturno, dos integrantes da Escola nesse período
e das relações entre o saber escolar e os outros
saberes. Exige trabalho coletivo, onde o objetivo comum, bem-definido,
arme e articule os objetivos individuais de cada elemento
do grupo. Requer também empenho dos professores na
apresentação e discussão das situações
de ensino-aprendizagem, orientadas e fortalecidas pela colaboração
com professores especialistas (de Universidade, por exemplo),
registro das reflexões e do resultado das ações
planejadas e realizadas. Da análise e divulgação
em formato acessível a professores interessados, espera-se
a "contaminação" que provoque modificações
transformadoras".
"A apropriação do saber científico
e tecnológico presente no moderno processo produtivo
precisa integrar o currículo escolar e o fazer dos
professores, contribuindo para a própria transformação
da Escola em um local de trabalho.
A metodologia, portanto, perpassa a seleção
dos conteúdos, precedida pela justificativa dessa escolha;
o preparo para a explicitação desses conteúdos;
a avaliação contínua dos procedimentos
(técnicas, recursos, diálogo, atividades extra
classe que prolongam a aula do professor); o registro do processo,
sua análise e conseqüente divulgação."