Para avaliar é preciso medir,
certo ? Errado.
Esta é a resposta de Monica G. Thurler, ao nos
apresentar um novo olhar sobre a eficácia das escolas
e a avaliação.
Inicialmente, a autora faz um breve histórico sobre
a questão da eficácia. Situa o surgimento
do interesse pelo assunto nos anos 70, quando predominaram
trabalhos com perspectivas "pessimistas" sobre
o papel da escola no desenvolvimento das crianças
ou em relação à sociedade.
Diante deste quadro, alguns estudiosos começaram
a se perguntar:
Como, então, algumas escolas dão certo
?
O interesse voltou-se para as boas escolas, no sentido
de investigar as condições que as tornam
eficazes.
Nos anos 80, surgiram novos estudos relacionando a eficácia
das escolas a características qualitativas. O papel
da interação e da comunicação
no interior da escola tornou-se um consenso entre os pesquisadores.
Mas, qual a relação entre eficácia
e avaliação ?
Monica Thurler afirma que a avaliação, mais
especificamente a auto-avaliação, está
na base da busca pela eficácia escolar.
Isto porque a avaliação, entendida como
um processo, tem por objetivo melhorar a escola, e não
medir resultados. Isto é, deve servir para alcançar
algo que, no caso, é o aprimoramento da escola
e das ações que nela têm lugar.
A proposta de auto-avaliação, por sua vez,
tem como pressuposto a crença na capacidade da
escola de resolver seus próprios problemas.
Ninguém melhor do que os próprios envolvidos
para dizer o que precisa ser mudado e como isto pode ser feito. Ou seja, os procedimentos
utilizados em uma avaliação devem ser próprios
à escola, considerando, portanto, suas especificidades.
Para que esta autonomia na avaliação seja
possível, como nos diz a autora, são necessários
quatro tipos de procedimentos:
* o diagnóstico;
* a coleta de dados;
* o desenvolvimento de ações coordenadas;
e
* a supervisão.
Destes, no entanto, apenas o primeiro (o mais importante)
costuma ser realizado nas escolas. Isto pode ser explicado
por vários motivos:
* porque o próprio conceito de avaliação
não está claro, ou seja, não se sabe
o que se tem a fazer;
* ou mesmo a finalidade da avaliação não
está clara, isto é, para que servirá
aquilo;
* ou ainda falta estrutura adequada para a realização
da avaliação, como tempo (já que
não há como conciliar as atividades avaliativas
com as tarefas habituais) e apoio externo (profissional
qualificado que auxilie no processo).
Ao conceber esta forma de avaliar e de promover a eficácia
das escolas, a autora parte de alguns pressupostos. São
eles:
* nenhuma mudança ocorre sem que sejam levadas
em conta as particularidades de cada escola e seu contexto;
* os professores não terão interesse na
avaliação e nas mudanças propostas
se eles não participarem das decisões acerca
dos objetivos e dos procedimentos a serem adotados;
* uma escola eficaz se caracteriza pelo fato de que o
movimento gerado pela avaliação seja comum
para a escola como um todo e haja um conjunto de objetivos
compartilhados;
* as chances de os professores modificarem sua postura
serão maiores se eles tomarem consciência
da situação e refletirem durante o planejamento
das ações.
A partir de todos estes aspectos envolvidos em uma
nova concepção de avaliação
e eficácia das escolas, a autora propõe
um modelo de avaliação: o Modelo das
Cinco Zonas.
Essas zonas são interdependentes. Veja algumas
de suas características:
Ensino orientado segundo as necessidades dos
alunos: eles são levados a sério, tem-se
confiança neles, encoraja-se a agirem de maneira
cooperativa e autônoma.
Formação equilibrada do aluno
com padrões de desempenho adequados, claros e
explícitos negociados, reconhecidos e aceitos
por todos.
Implicar o aluno em sua própria aprendizagem,
fazendo-o participar da definição dos
objetivos, do material, das situações,
dos métodos e do próprio planejamento.
Cultura da escola: conhecimento socialmente compartilhado
e transmitido daquilo que existe e deveria existir.
A organização interna da escola:
estilo de gestão e direção, as
boas relações entre os professores, o
contexto no qual o corpo docente é chamado a
funcionar.
Clima da escola: uma escola, como conjunto vivo
de pessoas que convivem e colaboram, desenvolve sua
própria linguagem, possui suas palavras, seus
próprios conceitos, rituais e modos de expressão
familiares que facilitam a comunicação,
dão segurança, fornecem a cada um a impressão
de "estar em casa".
Implicar os pais na organização
da rede escolar e estabelecer relações
estreitas, bem como com as autoridades escolares.
Administrar o justo equilíbrio entre
autogestão e poder central, entre a autonomia
da escola e o apoio a seus esforços pedagógicos
pela atividade escolar.