"É nas tramas do fazer e do viver o pedagógico
quotidianamente nas
escolas, que se pode perceber as reais razões do fracasso
escolar das crianças advindas dos meios sócio-culturais
mais pobres."
"No desenrolar de nossa pesquisa de campo, o que
temos ouvido e observado nas escolas visitadas reforça
a afirmação (...) de que se imputa o fracasso
dessas crianças, oriundas das classes trabalhadoras,
à desnutrição, às verminoses,
enfim, a uma condição adversa de saúde.
Ignora-se o fato de que estas estudam em escolas de periferia,
onde se concentram todos os vícios e distorções
do sistema social e, especificamente, do educacional, e tenta-se
encontrar nestas crianças uma causa orgânica,
inerente a elas, que justifique o seu mau rendimento."
"Quais são as crianças desnutridas
que estão hoje freqüentando nossas escolas ? São
aquelas portadoras de desnutrição leve, a chamada
pelos especialistas de desnutrição de primeiro
grau. Não estamos aqui afirmando que este tipo de desnutrição
não tem importância, ela a tem tanto que constantemente
é apontada como forte indicador da situação
de penúria e miséria em que vive grande segmento
de nossa população."
"Entretanto, o que estamos querendo enfatizar é
que este grau de desnutrição [leve] não
afeta o desenvolvimento do sistema nervoso central, não
o lesa irreversivelmente e, portanto, não torna a criança
deficiente mental, incapaz de aprender o que a escola tem
a lhe ensinar.
A criança portadora de desnutrição leve
apenas sacrifica o seu crescimento físico para manter
o seu metabolismo. Exames clínico e laboratorial indicam
que a criança é normal, com exceção
de um déficit de peso e estatura em relação
à sua idade."
"È necessário que desmistifiquemos
as ´famosas´ causas externas desse fracasso escolar,
pela articulação àquelas existentes no
próprio âmbito escolar, e que tenhamos clareza
dos fatores que as determinam e as articulam"